VÁLVULA DE ESCAPE

E quando as palavras não são suficientes para extravasar meus sentimentos,

Quando a força de enfraquecer é mais forte que a de continuar em pé,

Corro para meu anjo imortal, corro para as 88 teclas do meu coração. 

Corro para meu piano, minha extensão.

Ao longo de dias chuvosos e tempestuosos 

Ele me entende. Fala comigo sobre paixões, histórias medievais e sobre o céu.

Canta como um rouxinol tão belas melodias

Que até o Sol deita para ouvi-las, puxando do horizonte um manto dourado

Que cobre toda a terra para descansar com o tilintar dos sinos que estão a cantar.

Ando, pela floresta de prédios, perdida. 

Sinfonia de fumaça e buzinas. 

Chego, abalada, na floresta inabitável pela civilização,

Encontro meu amado com suas voluptuosas curvas,

 com cordas vocais a formar harmônicos perfeitos.

Sinfonia dos deuses. Minha toxina.

Nossas almas já estão em sintonia. 

Suas ondas sonoras formam o desenho das batidas do meu coração.

Já não preciso me alimentar de pão.

 Encontrei minha última ceia no seios da 

minha própria solidão,

ou melhor: imensidão.

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